52º Dia mundial das comunicações sociais: Tornar-se terra e país

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Quando criança, tal­vez todos nós, como diz um texto de La Luna e i falò (A lua e a fogueira) de Cesare Pavese, poeta italiano e escritor, nós fe­chamos os olhos para ver, se ao reabri-los, a colina teria desaparecido, fazendo-nos entre­ver um país melhor.

Com o desejo de ir mais longe, a cultura digital deu-nos uma contribuição decisiva. O indivíduo realmente descobriu a América, um mundo sedutor de imagens, notícias e co­mentários, que permite enviar à praça pública seus momentos mais pessoais.

O encanto da velocidade, na máquina e na vida, apresenta grandes riscos. Pode-se chegar a pensar que todos os conteúdos são iguais, que entre representação e realidade talvez não exista nenhuma distinção, e que as próprias crenças persistem mais que os fatos e podemos subtrair-nos de tudo o que é dissonante.

Neste pano de fundo, facilmente, os pre­conceitos e os estereótipos, a suspeita e os fechamentos reforçam-se mutuamente. Tor­na-se difícil reconhecer as falsas notícias, as informações infundadas, “em base a dados inexistentes ou distorcidos” tão plausíveis e eficazes na sua capacidade de prender e se­gurar.

Tem razão quem diz que tal fenômeno não é novo. Na verdade, hoje ele se torna preocu­pante pelo número de contatos que realiza de uma maneira tempestiva e pouco controlável.

Se as redes sociais não podem ser consi­deradas a principal causa das notícias falsas, dos like e dos compartilhamentos, porém, re­conhecemos que facilitam sua disseminação, de acordo com um dinamismo dos conteúdos que revela mais visibilidade que veracidade.

A este respeito, em sua Mensagem para 52º Dia mundial das comunicações sociais, o Papa denuncia a “lógica da serpente”, que ofusca “a interiodade da pessoa” e lhe rouba “a liberdade do coração”. Mesmo uma argu­mentação impecável, “se utilizada para ferir o outro ou para desacreditá-lo diante dos de­mais, por mais que pareça justa, não é habi­tada pela verdade”.

A que serve então?

“Eu voltei, estava rico, mas os rostos, as vozes e as mãos que deviam me reconhecer e me tocar não existiam mais – reconhece o protagonista do romance de Pavese, quando voltou da América -. O que sobrou era como uma praça após uma feira…”.

Isso não quer dizer que este resultado é inevitável. Na verdade, Francisco – e com ele todo o Magistério da Igreja – traz um olhar confiante na capacidade do ser humano “re­contar a sua experiência e a do mundo e, por­tanto, construir a memória e a compreensão dos acontecimentos”.

Trata-se de “redescobrir o valor da profis­são, onde o jornalista é o “guardião das no­tícias”, cujo centro “não é a velocidade em comunicá-la e nem mesmo o impacto sobre o público, mas as pessoas”. Um “jornalismo de paz”, consciente de estar a serviço daqueles que “não têm voz”, “procurando as verdadei­ras causas dos conflitos”.

Por outro lado – hoje, além de usuários, todos nos tornamos produtores – por isso o Papa sublinha “a responsabilidade de cada um na comunicação da verdade”; e a respon­sabilidade em educar-se e educar ao discerni­mento, à verificação, ao aprofundamento.

Insiste também que em sua relação com a realidade, a verdade continua a ser uma exi­gência insuprimível, que não se resolve numa realidade “conceitual” e nem mesmo, trazen­do “à luz coisas obscuras”. Verdade é “aquilo sobre o qual se pode apoiar-se para não cair”, explica Francisco e acrescenta: “O homem descobre sempre mais a verdade, quando a experimenta em si mesmo como fidelidade e confiabilidade de quem o ama”. Pavese diz: “País significa que não estamos sós, sabe que nas pessoas, nas plantas e na terra exis­te algo de si, mesmo quando não se não está, ele fica esperando-o”.

Em última análise, a mensagem ainda sublinha que “o único realmente confiável e digno de confiança, sobre o qual se pode con­tar, ou seja, a “verdade” é o Deus vivo.” A ex­periência da comunidade eclesial reconhece seu rosto em Jesus Cristo, verdade suprema e plenamente humana.

Este fundamento deve existir também na comunicação. É por isso que se retorna a ele, como o protagonista de La luna e i falò – que nunca deixou de procurar: “Eu andei o suficiente no mundo para saber que todas as carnes são boas e equivalentes, mas é por isto que a pessoa se cansa e tenta enraizar-se para se tornar terra e país, e para que sua carne seja boa e dure mais que uma simples temporada”.

Pe. Ivan MaffeisDirettore dell’Ufficio Nazionale Comunicazioni Sociali della CEI

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