Enquanto isso, Judas não para de entregar, mas não por dinheiro. Talvez por obediência, talvez por desespero, talvez por amor, talvez. Judas se entrega à ambiguidade, o coração do homem permanece escuro. E assim será para sempre.
Primeiro há instruções e códigos, o jogo oculto de ser discípulo é misterioso: potros para desamarrar, mantos para estender e ramos de oliveira para agitar, a vida que nos espera parece um jogo de meninos se não fosse pela morte que tornará incompreensivel, senão pelos antigos testamentos, o entusiasmo da entrada em Jerusalém.
Depois um jantar que é uma entrega, selar a amizade porque só os amigos podem trair e trair-se.
Penso a traição como o selo de um vínculo.
Tomar, abençoar, partir, como nascer, abençoar, morrer. Parece que não tenho mais nada a aprender, exceto a arte de abençoar.
E não rezamos senão no coração do escândalo. Não há oração senão no medo e na angústia.
Não há oração senão numa alma triste até a morte.
Eu passaria a vida seguindo o destino do respiro, que de beijo se estrangula num nó pendurado para sempre num remorso. Judas. Mas também Pedro, que finalmente compreende de não tê-lo ainda compreendido..

